segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Buscas que nunca terminam



No mundo, há, e sempre houve, indivíduos que nasceram, viveram e morreram inconciliáveis com o encontro, com a chegada, com o repouso. Gente eternamente insatisfeita, sempre olhando à frente, ansiando a próxima escalada, o próximo topo. Pessoas de boa convivência com a dúvida, com as perguntas. Mais do que isso, que têm o dom de fazê-las aliadas em suas realizações.

Aristóteles, por exemplo, era conhecido, dentre muitas outras notáveis características, por nunca dar-se por satisfeito com suas investigações. Ao longo da vida, revisou e alterou seus tratados, sempre certo de que haveria muito mais a se saber sobre os objetos de suas pesquisas. Tal fato pode ser reforçado com a leitura da “Ética a Nicômaco”, tratado longo e aventuroso. Apesar de oferecer uma explicação bastante aprofundada sobre seu conceito de virtude, Aristóteles escreve, na última linha: “Prossigamos com a investigação”.

As artes plásticas, sobretudo durante o modernismo, são marcadas pelo desejo de mudanças, pela insistente vontade de recomeçar, de repensar possibilidades, de testar e expandir as fronteiras de práticas artísticas consideradas esgotadas, uma urgência intensa por liberdade, por sucessivas quebras de barreiras.

E assim, de tanta insatisfação, os limites da existência humana são eternamente empurrados à frente, para desespero daqueles que sempre querem enxergar em volta um mundo sólido, imutável e ausente de mistérios.

O porquê da existência de pessoas com tais inquietudes nunca seria encontrado em texto tão breve, fadado, claro, à inconclusão. Todavia, pode-se interrompê-lo a contento com as palavras do escritor António Lobo Antunes:

“Nunca conseguirei o romance que quero fazer porque, primeiro, se o fizer, para quê continuar a escrever? Depois, porque é uma luta constante com as palavras, com a resistência das emoções, mas esse é precisamente o encanto do meu trabalho”.
Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002

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