terça-feira, 12 de outubro de 2010

Art Déco - Ainda viva, no fundo do oceano...

 
O movimento art déco foi uma mistura de vários estilos e propostas surgidas no início do século XX. Ele não afetou apenas a arquitetura, mas todas as artes plásticas e as chamadas artes aplicadas: móveis, esculturas, moda, joalheria e design gráfico.

O art déco possui esse nome porque não foi motivado por intenções filosóficas ou políticas. Sua proposta elegante e funcional era puramente decorativa. Pode ser visto como uma adaptação generalizada dos princípios do modernismo e da vanguarda do século XX, principalmente, da pintura cubista e suas formas geometrizadas. Predominam as linhas retas, triangulares ou circulares estilizadas e o design abstrato. Entre os motivos mais explorados estão os animais e as formas femininas. Nesse sentido, pode-se afirmar que o art déco foi uma tentativa de modernização da rebuscada art nouveau e suas linhas sinuosas e ornamentos florais.

O estilo aplicado a objetos, detalhes arquitetônicos e decoração de interiores

Inicialmente, o art déco apresenta-se como um estilo luxuoso, destinado à burguesia enriquecida, a despeito – ou por conta – da 1ª Guerra Mundial. Foi a época do jade, laca e marfim, das cores quentes, das confecções do estilista e decorador Paul Poiret, dos vestidos “abstratos” de Sonia Delaunay, dos vasos do conceituado René Lalique... A partir de meados da década de 30, o movimento passa a ser assimilado pelo ainda emergente mercado industrial, que utiliza materiais e formas passíveis de serem reproduzidos massivamente. Era a vez do concreto armado, do compensado de madeira e do aço tubular. O povo agora convivia com a estética art déco através de cartazes de publicidade, bijuterias, mobiliário e simples objetos de uso doméstico.    
Art déco na arquitetura - A marca das grandes metrópolis americanas no início do século XX

A despeito de suas origens francesas, os motivos e padrões art déco se expandiram rapidamente por toda a Europa e pelos Estados Unidos. Em relação à arquitetura, há diferenças entre o estilo utilizado em Miami – marcado por formas mais puras e pouca ornamentação - e o estilo utilizado em Nova Yorque e Chicago – ricamente ornamentado e dotado de elementos metálicos. 
 
 Art déco brasileira: Torre do Relógio da Central do Brasil, Estação Ferroviária em Goiânia e o Cristo Redentor, a maior escultura Art Déco do mundo

Pode-se situar o auge do art déco no louco período entre as duas Grandes Guerras, ou ainda, de 1920 a 1939. Mas, apesar de seu declínio a partir de então, sem esforços, observa-se ainda sua sólida influência através dos anos 40, cinquenta, ou mesmo 60. Na verdade, assim como ocorreu com muitos outros movimentos, sua influência permanece nos trabalhos de muitos artistas contemporâneos.

Releituras do estilo por artistas atuais

Esse é o caso dos jogos da franquia “Bioshock”. Destinados a serem dois dos mais bem sucedidos jogos da década, eles tem como cenário uma cidade submersa – Rapture, que significa êxtase - construída em uma década de 40 alternativa, para servir como o paraíso de uma elite intelectual. Porém, anos depois, quando o único sobrevivente de um acidente de avião descobre essa utopia submarina, encontra-a caótica e derrotada, ela própria uma entidade insana e curvada sobre si mesma. Os muros estão desmoronando. Aqui e ali, rachaduras nas abóbadas de vidro permitem a lenta, porém, inexorável, invasão das águas do oceano. Pelos corredores e salas amontoam-se cadáveres. Dentre os vivos, aqueles que foram, um dia, os melhores e mais brilhantes do mundo acima são agora loucos mutantes que correm cegamente pelos salões arruinados...

 Cenas de Bioshock: beleza entre ruínas, violência e caos...

 ...detalhes que dão forma a um mundo inesquecível

Ao desenhar a cidade, Hogarth De La Plante, principal artista conceitual dos ambientes do jogo, escolheu o visual art déco, influenciado pelos prédios de Manhattan. “Art déco foi um triunfo do homem sobre a natureza”, disse ele, acrescentando que muitas construções do jogo são monstruosas, não-naturais e possuem muitos ângulos retos que evocam a imagem de escadarias que as pessoas poderiam galgar para chegar ao paraíso.

O artista diz que esse é o visual perfeito, não apenas porque se encaixa na linha do tempo proposta pela história do jogo, mas porque “Rapture é uma cidade onde os homens são incríveis a ponto de construírem-na sob as águas, ambiente naturalmente hostil a eles”. De La Plante diz gostar da maneira como se encaixa o colapso físico da cidade, enquanto a sociedade em Rapture também desmorona.
 
Quem vive alguns momentos no universo do jogo percebe que todo o aspecto art déco de Bioshock não se restringe apenas à arquitetura. A decoração dos interiores e os objetos também sofreram significativa influência do estilo. Porém, após um mergulho mais profundo, percebe-se que Rapture é mais do que isso. Art déco ali não se limita à decoração. Cada cartaz, cada salão grandioso ou pequeno cômodo conta uma história. São fragmentos de um sonho fracassado que ligam jogador e obra sob um espectro emocional envolvente, que intensifica-se a cada nova descoberta. E ainda há mais. Há steampunk e futurismo. Há elementos contemporâneos, embora representados por metáforas. Há arte, que, por definição, se alimenta da vida e, por que não, dela própria, sempre e inevitavelmente emergindo diante de nós como algo único.

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