A Pré-História foi o período mais extenso da história humana. E a Arte Rupestre, primordial para a jornada do homem rumo à civilização, refletindo seus medos e desejos, na medida em que sua consciência ganhava profundidade e complexidade.
Antes da descoberta artística, só existia o real, o palpável. Eram a solidez das coisas e a imaginação etérea, nada mais. Decerto, há que se considerar a euforia do homem primitivo, ao riscar na pedra e ver materializar-se, diante dele, uma nova realidade, um mundo virtual, ao mesmo tempo diverso e complementar aos fenômenos naturais de seu mundo.
Cada técnica adquirida dali em diante foi preciosa. Todo o vocabulário de símbolos, linhas e abstrações deram origem a cenas reconhecíveis e convincentes, um convite a uma viagem interior.
Esse artista primitivo desenvolveu seus métodos em função do material que possuía. E ele usava essa nova tecnologia para reconstruir seu mundo, tal como ele via, ou tal como ele gostaria que fosse.
Aos poucos, todos começavam a gostar daquele mundo do artista. E através da arte, os homens jogavam o jogo mortal da caça, giravam em torno do fogo, encontravam seus deuses, seus ancestrais, criaturas fantásticas, animais poderosos. À noite, alimentavam seus sonhos com contornos bestiais, traçando nas paredes os futuros alimentos para o corpo. Eles podiam, naquele novo mundo, fugir um pouco da realidade. Pois a vida, agora, acontecia em dois universos, ao mesmo tempo em que eles aprendiam a manipulá-los e descobri-los.
Até que, agricultores sedentários, os artistas pré-históricos encontraram tempo e alcançaram maturidade para racionalizar e filtrar aquilo que viam, expressando o mundo por meio de simbólicos códigos geométricos e estilizações, primeiros reflexos de uma cultura organizada, dotada de linguagem, tradições e convenções.
Talvez não seja exagero enxergar um paralelo entre a imersão do artista primitivo nos rudimentos da representação pictórica e os recentes avanços da computação gráfica, que, de maneira decidida, caminham para solidificar um mundo virtual, cada vez mais simultâneo e relevante à vida do homem de hoje.
Se levarmos em conta, ainda, que a Arte Rupestre, ao longo do tempo, transfigurou-se da representação pura e realista à abstração total, poderíamos até mesmo esboçar uma previsão para o futuro da arte digital.
Desde sempre, o desenho, fruto do gesto, nasceu nas pontas dos dedos, ganhou precisão com o carvão e o pincel, até os avanços tecnológicos conceberem ferramentas como o tablet e a tela sensível ao toque.
O primata cobria suas mãos com tinta, na esperança de vê-la passar para a realidade que criara. Hoje, o gesto, ainda dependente de um carvão imaginário, já não é matéria, líquido ou pó colorido. Já nasce arte, virtual, cristalino em uma tela luminosa.
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