terça-feira, 24 de agosto de 2010

A incrível arte de Rafal Olbinski



Rafal Olbinski nasceu na cidade de Kielce, na Polônia. Em 1981 mudou-se para os Estados Unidos, onde logo se estabeleceu como proeminente pintor, ilustrador e designer.

O artista já teve seu trabalho premiado por muitas vezes, e desde 1985 atua como professor na School of Visual Arts, em Nova York.

Além de sua relevância como pintor, foi com as incontáveis capas de revista,cartazes para óperas e outros eventos que ele destacou-se, efetivamente.

Sua arte, surrealista, climática, exagerada, possui um humor sutil e poético, e seus posters, imagens marcantes, em um simbolismo muito característico do estilo polonês.

É interessante notar que Rafal ainda prefere trabalhar com os tradicionais pincéis e tintas, a despeito da grande maioria dos artistas do mercado publicitário atual fazerem uso maciço dos mais avançados recursos tecnológicos disponíveis.


Porém, o mais importante de tudo é que, mesmo aliadas a um enorme apelo comercial, as obras do artista possuem vida própria, e nunca deixaram em segundo plano a qualidade, oferecendo ao observador grandes jornadas por mundos sedutores e delirantes.


Aproveite a Viagem...





Para quem quiser continuar apreciando, há ainda uma galeria muito interessante, aqui.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Arte = mágica


Pinturas perfeitas em 3D ilusório. Diversos artistas e lugares.


Por um destino acima do teu Ser,
Tens que buscar nas cousas inconscientes
Um sentido harmonioso, o alto prazer
Que se esconde entre as formas aparentes...

                                                                                     trecho do poema "Artista", de  Raul de Leoni (1895-1926)




  



Buscas que nunca terminam



No mundo, há, e sempre houve, indivíduos que nasceram, viveram e morreram inconciliáveis com o encontro, com a chegada, com o repouso. Gente eternamente insatisfeita, sempre olhando à frente, ansiando a próxima escalada, o próximo topo. Pessoas de boa convivência com a dúvida, com as perguntas. Mais do que isso, que têm o dom de fazê-las aliadas em suas realizações.

Aristóteles, por exemplo, era conhecido, dentre muitas outras notáveis características, por nunca dar-se por satisfeito com suas investigações. Ao longo da vida, revisou e alterou seus tratados, sempre certo de que haveria muito mais a se saber sobre os objetos de suas pesquisas. Tal fato pode ser reforçado com a leitura da “Ética a Nicômaco”, tratado longo e aventuroso. Apesar de oferecer uma explicação bastante aprofundada sobre seu conceito de virtude, Aristóteles escreve, na última linha: “Prossigamos com a investigação”.

As artes plásticas, sobretudo durante o modernismo, são marcadas pelo desejo de mudanças, pela insistente vontade de recomeçar, de repensar possibilidades, de testar e expandir as fronteiras de práticas artísticas consideradas esgotadas, uma urgência intensa por liberdade, por sucessivas quebras de barreiras.

E assim, de tanta insatisfação, os limites da existência humana são eternamente empurrados à frente, para desespero daqueles que sempre querem enxergar em volta um mundo sólido, imutável e ausente de mistérios.

O porquê da existência de pessoas com tais inquietudes nunca seria encontrado em texto tão breve, fadado, claro, à inconclusão. Todavia, pode-se interrompê-lo a contento com as palavras do escritor António Lobo Antunes:

“Nunca conseguirei o romance que quero fazer porque, primeiro, se o fizer, para quê continuar a escrever? Depois, porque é uma luta constante com as palavras, com a resistência das emoções, mas esse é precisamente o encanto do meu trabalho”.
Conversas com António Lobo Antunes, de María Luisa Blanco, 2002

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sobre escrever - I



“Agora não é hora de pensar! É hora de escrever!”
 
Filme “Encontrando Forrester”, 2000.


Nas artes, as ideias são o marco que separa a vida comum da obra acabada. Por um lado, uma ideia nunca é gerada do nada, e sim, de uma constante ebulição de pensamentos e experiências. Por outro, ela costuma ser a fagulha, que acende o estopim de algo muito maior. Memoráveis obras de arte nascem de pequenos relances de criatividade, todos os dias.

Existem escritores que trabalham somente sob os impulsos da inspiração, e possuem rendimento bastante regular e satisfatório, ou seja, fôlego o suficiente para terminar os projetos começados, prolongando o calor passional do momento de iluminação até onde for preciso. São artistas intuitivos, que elaboram mentalmente as etapas de seus trabalhos, conforme vão dando forma a eles. 

Mas esses não são os casos mais frequentes. Passado o momento de originalidade, não é raro o escritor ficar perdido, sem saber para onde levar a ideia que parece fugir para todas as direções e para nenhum lugar, ao mesmo tempo. O mundo desse escritor está cheio de romances inacabados, escondidos em sua mente, e horas e horas desperdiçadas diante de uma folha ou tela em branco. Esse tipo de artista oscila entre uma semana de noites viradas e grandes períodos de ócio; empolgação e envolvimento total com seu novo projeto, e então, total desinteresse e desmotivação. Ele não usa a inspiração a seu favor. É seu escravo.

Como proceder, então, quando há um prazo se aproximando, ou quando uma história, por algum motivo, insiste em permanecer incompleta? Lança-se mão de certos recursos para fomentar e forçar a inspiração, mantendo constante o fluxo criativo. 

Em primeiro lugar, o escritor precisa se esforçar para tirar da mente toda a ideia geradora, materializá-la, seja na tela do computador ou no papel. Os olhos precisam vê-la. Lê-la. É importante salientar que não se pode ser muito autocrítico, nessa fase inicial. Não é preciso dar muita atenção às escolhas de palavras, ou aspectos estruturais. O que importa é transformar um sonho no começo de alguma coisa real. Quem gosta de escrever, deve habituar-se a, simplesmente, escrever, e, de forma espontânea, contar seus pensamentos para si próprio. O cérebro precisa confrontá-los por outro ângulo, como se eles tivessem realmente vindo de fora. Quando se tem algo já concretizado diante dos olhos, há um alívio psicológico que ajuda a impulsionar o restante do processo, um tanto mais demorado e complexo. Agora é hora de pesquisar, corrigir, modificar, reconstruir, acrescentar, cortar, envernizar, revisar...

Com o tempo, o escritor começa a dominar cada uma das etapas, desenvolvendo sua própria maneira de planejar seu esboço, estruturá-lo e finalizá-lo, aproveitando melhor suas ideias e o tempo de que dispõe, aumentando, assim, sua produção.

Falaremos mais profundamente sobre tudo isso em breve.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Arte de todo tempo



A Pré-História foi o período mais extenso da história humana. E a Arte Rupestre, primordial para a jornada do homem rumo à civilização, refletindo seus medos e desejos, na medida em que sua consciência ganhava profundidade e complexidade.

Antes da descoberta artística, só existia o real, o palpável. Eram a solidez das coisas e a imaginação etérea, nada mais. Decerto, há que se considerar a euforia do homem primitivo, ao riscar na pedra e ver materializar-se, diante dele, uma nova realidade, um mundo virtual, ao mesmo tempo diverso e complementar aos fenômenos naturais de seu mundo.

Cada técnica adquirida dali em diante foi preciosa. Todo o vocabulário de símbolos, linhas e abstrações deram origem a cenas reconhecíveis e convincentes, um convite a uma viagem interior.
Esse artista primitivo desenvolveu seus métodos em função do material que possuía. E ele usava essa nova tecnologia para reconstruir seu mundo, tal como ele via, ou tal como ele gostaria que fosse.

Aos poucos, todos começavam a gostar daquele mundo do artista. E através da arte, os homens jogavam o jogo mortal da caça, giravam em torno do fogo, encontravam seus deuses, seus ancestrais, criaturas fantásticas, animais poderosos. À noite, alimentavam seus sonhos com contornos bestiais, traçando nas paredes os futuros alimentos para o corpo. Eles podiam, naquele novo mundo, fugir um pouco da realidade. Pois a vida, agora, acontecia em dois universos, ao mesmo tempo em que eles aprendiam a manipulá-los e descobri-los.

Até que, agricultores sedentários, os artistas pré-históricos encontraram tempo e alcançaram maturidade para racionalizar e filtrar aquilo que viam, expressando o mundo por meio de simbólicos códigos geométricos e estilizações, primeiros reflexos de uma cultura organizada, dotada de linguagem, tradições e convenções.

Talvez não seja exagero enxergar um paralelo entre a imersão do artista primitivo nos rudimentos da representação pictórica e os recentes avanços da computação gráfica, que, de maneira decidida, caminham para solidificar um mundo virtual, cada vez mais simultâneo e relevante à vida do homem de hoje.
Se levarmos em conta, ainda, que a Arte Rupestre, ao longo do tempo, transfigurou-se da representação pura e realista à abstração total, poderíamos até mesmo esboçar uma previsão para o futuro da arte digital.

Desde sempre, o desenho, fruto do gesto, nasceu nas pontas dos dedos, ganhou precisão com o carvão e o pincel, até os avanços tecnológicos conceberem ferramentas como o tablet e a tela sensível ao toque.

O primata cobria suas mãos com tinta, na esperança de vê-la passar para a realidade que criara. Hoje, o gesto, ainda dependente de um carvão imaginário, já não é matéria, líquido ou pó colorido. Já nasce arte, virtual, cristalino em uma tela luminosa.

SÍMBOLOS II

O Círculo

O círculo é um ponto estendido, participa da perfeição do ponto. Por isso, o ponto e o círculo possuem propriedades simbólicas comuns: perfeição, ausência de distinção ou de divisão.

Emblema solar associado ao número 10, simboliza o céu em oposição à Terra, ou o espírito em oposição à matéria, a eternidade, a unidade, o absoluto, a totalidade, símbolo do tempo e do infinito. Pode representar o Tudo ou o Nada, dependendo da interpretação.

Também é conhecido como o “olho fechado de Deus”. Ele pode conter a criação, a fertilidade e a origem da vida.

De forma figurada, pode representar um grupo de pessoas, ou uma agremiação.

Nas crenças mágicas é símbolo de proteção e contra maus espíritos. É usado por muitos bruxos e neopagãos como símbolo sagrado de "ioni", energia.

O “A” no círculo é certamente o símbolo anarquista mais conhecido da atualidade.

No Zen-budismo, simboliza a mais alta iluminação. A harmonia das forças espirituais.

No cristianismo, simboliza a hierarquia. Três círculos inseridos entre si simbolizam a Trindade.

Símbolo cabalístico, o círculo inscrito num quadrado, representa centelhas do fogo divino oculto na matéria.

Na Psicanálise é símbolo da alma e do eu.

Segundo a Alquimia, pode significar a unidade interna da matéria, a consonância universal.


A arte de mentira de Platão



O mais fascinante na filosofia é que ideias e conceitos, ainda que milenares, podem sempre ser aplicados à vida de hoje. Muito do patrimônio cultural deixado pelos antigos mestres permanecem atuais. Às vezes, certas teorias fazem mais sentido agora do que quando foram desenvolvidas.

Pode-se, por exemplo, aplicar a famosa “Alegoria da Caverna”, criada por Platão, à vida moderna, onde a maioria das pessoas vive acorrentada em um mundo de sombras selecionadas pela mídia e pela indústria do entretenimento.

Com isso, poderíamos nos juntar aos detratores da manipulação da informação e da cultura de massa, e aos defensores da arte verdadeira, aquela capaz de elevar o espírito e proporcionar o crescimento do homem, em direção a um mundo melhor.  

Analogia perfeita, exceto por um problema. O pensamento estético de Platão oscila todo o tempo entre a valorização e a desvalorização da arte, pendendo sensivelmente para a segunda. Platão afirma, em um dado momento, ao idealizar sua “República”, que as artes, independentemente de critérios qualitativos, deveriam ser banidas da sociedade ideal, em especial a poesia, por serem elas capazes de gerar ilusões, e assim, desviar o homem da verdade pura. Ilustrando melhor: toda arte fala aos sentidos, e, por isso, mantém os homens nas sombras, entre cópias falhas e incompletas, formas e cores imperfeitas. A arte é a cópia da cópia. Como saber se o verde que enxergo corresponde à essência da cor, ou ainda, se ele é tão forte ou vibrante quanto o verde que você enxerga?

Ironicamente, milhares de pessoas acordaram para os pensamentos de Platão após experienciar Matrix. Nessa linha, poderíamos argumentar que a própria parábola da caverna é uma manifestação artística, uma narrativa criada para envolver os sentidos de quem a ouve.

Tantas contradições contribuem apenas para avivar perguntas cada vez mais pertinentes aos dias de hoje. O que é a verdade absoluta? Tal coisa existe, realmente? Podemos apreender algo por outro meio que não os sentidos? Se sim, como desligar, então, conceitos e ideias da subjetividade, isolá-los da experiência humana, terrena, inevitavelmente incompleta?

Há quem ache impossível. Aristóteles já o achava, ainda na antiguidade clássica. E há quem ache que ainda é cedo. Talvez o próprio Platão dissesse, hoje, que mais de dois milênios podem ser muito pouco para, enfim, sermos capazes de vislumbrar o imutável e perfeito mundo ideal organizado por seu Demiurgo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Jogos de Palavras




Quem gosta de escrever sabe da teimosia das palavras em sentarem-se quietas sobre seus significados. Palavras nomeiam tudo o que nos cerca, e, vá lá, um tanto daquilo que há dentro de nós. Isoladas, há pouco mais do que isso para elas. Corpo. Saudade. Sede. Água. Azul. E só.

Apenas quando percebe que o sentido não está realmente nas palavras, o escritor começa a ousar novos usos, novos lugares, novas formas de pastoreá-las e agrupá-las. Então surpreende-se como tão poucas sílabas podem dar origem a tão vastos universos. Porque, juntas em frases, palavras não são mais palavras, são ideias, pensamentos, composições de sons e signos que, agora sim, verdadeiramente refletem parte da alma de alguém.

As palavras sempre foram tão frágeis quanto rebeldes e volúveis. Às vezes, basta mudar-lhes uma vizinha para que todas as demais virem outra coisa, e então é um custo dar forma acabada ao que vagueia pelas neblinas do pensamento. Às vezes, a culpa é do leitor, e a palavra sai do papel ou da boca apenas para ser transformada, lá do outro lado, por olhos e ouvidos que não as viram nascer. Palavras são assim.

Mas quando o escritor aprende que não é preciso domá-las friamente, e sim escolher com cuidado os leitos onde pretende deitá-las, as palavras acabam aceitando alegremente tomar parte em seu rebanho.


Caso algumas delas, no caminho até aí, tenham lhe escapado, fica abaixo o rebanho de um pastor infinitamente melhor:

"A maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê e o que pensa. Dizem que não há nada mais difícil do que definir em palavras uma espiral: é preciso, dizem, fazer no ar, com a mão sem literatura, o gesto, ascendentemente enrolando em ordem, com que aquela figura abstrata das molas ou de certas escadas se manifesta aos olhos. Mas, desde que nos lembremos que dizer é renovar, definiremos sem dificuldade uma espiral: é um círculo que sobe sem nunca conseguir acabar-se. A maioria da gente, sei bem, não ousaria definir assim, porque supõe que definir é dizer o que os outros querem que se diga, que não o que é preciso dizer para definir. Direi melhor: uma espiral é um círculo virtual que se desdobra a subir sem nunca se realizar: Mas não, a definição ainda é abstracta. Buscarei o concreto, e tudo será visto: uma espiral é uma cobra sem cobra enroscada verticalmente em coisa nenhuma. Toda a literatura consiste num esforço para tornar a vida real. Como todos sabem, ainda quando agem sem saber, a vida é absolutamente irreal, na sua realidade directa; os campos, as cidades, as ideias, são coisas absolutamente fictícias, filhas da nossa complexa sensação de nós mesmos. São instransmissíveis todas as impressões salvo se as tornarmos literárias. As crianças são muito literárias porque dizem como se sentem e não como deve sentir quem sente segundo outra pessoa. Uma criança, que uma vez ouvi, disse, querendo dizer que estava à beira de chorar, não 'tenho vontade de chorar' que é como diria um adulto, isto é, um estúpido, senão isto: 'tenho vontade de lágrimas'. E esta frase, absolutamente literária, a ponto de que seria afectada num poema célebre, se ele a pudesse dizer, refere absolutamente a presença quente das lágrimas a romper das pálpebras conscientes da amargura líquida. 'Tenho vontade de lágrimas'! Aquela criança pequena definiu bem a sua espiral."

Fernando Pessoa - O Livro do Desassossego

Artista-filósofo



Há filósofos não-artistas? Certamente. Mas, parando para refletir por um momento, percebemos que o contrário é impossível. Talvez, tal filosofia esteja um pouco distante da acadêmica, mas, ainda assim, não se pode negar que o fazer artístico requer pensamento, abriga novos conceitos e questionamentos. Trata-se de um pensamento filosófico que não fica restrito somente ao discurso textual.

A arte é uma linguagem tão ampla e maleável quanto diversa. Há o puro emocional abstrato. Há a literatura racional e descritiva, quase jornalismo. E todo um universo entre eles.

Filmes, por exemplo, por trabalharem imagens, são, por definição, mais concretos do que músicas. Podem até manipular conceitos emocionais e subjetivos, mas, de forma alguma, limitam-se a eles.

Por outro lado, um ouvido educado percebe infinitos significados em músicas puramente instrumentais. Uma música sem letra traz consigo um discurso, com sentido e intenção pensados, e podem provocar experiências bastante marcantes ao ouvinte.

Signos abstratos em um quadro "pensam", sim, e também levam à meditação, à filosofia.

O artista-filósofo analisa o mundo com sua obra, e, através de seu trabalho, provoca a reflexão. Mas não só ela, ou estaríamos falando de filosofia pura. A arte é preciosa porque guarda o importante jogo alegórico, a poesia, seja imagética, sonora ou visual, que permite interpretações e entendimentos em vários níveis. Uma filosofia diferente, que também faz sentir.