segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O que se esconde na trilha sonora de "A Origem"?


O alemão Hans Zimmer é, hoje, um dos mais prolíficos e conhecidos compositores de trilhas sonoras para filmes. Desde o primeiro sucesso, o tema de “Rain Man” (1988), ele coleciona em seu extenso currículo, além de muitos outros, os temas de “A Rocha”, “Mar em Chamas”, “O Último Samurai”, “Gladiador”, “Hannibal”, “O Código Da Vinci”, “Anjos e Demônios”,  “Missão: Impossível 2”, “Sherlock Holmes”, o jogo “Call of Duty: Modern Warfare 2”, “Batman – O Cavaleiro das trevas”, este em conjunto com James Newton Howard, além do trabalho em parte da trilha de “Piratas do Caribe” e os arranjos de “My Winter Storm”, álbum de Tarja Turunen, ex-vocalista da banda Nightwish. 

O compositor desenvolveu um discurso musical inteligente e criativo, mesclando habilmente o clássico e o contemporâneo, onde sintetizadores unem-se a coro de vozes, guitarras sobrepõem-se a densos metais – John Marr, ex-guitarrista do grupo The Smiths, aparece como convidado em momentos da trilha de “A Origem”. Uma imponente orquestra sob melodias marcantes é uma de suas marcas registradas.

Seus últimos feitos o vêm conduzindo ao auge de sua carreira e, cometendo a heresia de compará-lo ao mestre John Willams, alguns de seus temas já são inesquecíveis e possuem vida própria, a despeito de serem pensados como engrenagens de uma máquina maior. 

Em “A Origem”, Zimmer compôs uma trilha, em princípio, simples, porém misteriosa e extremamente envolvente, emocional. Seu trabalho acrescenta ainda mais densidade à jornada de Dom Cobb, a qual, desde antes do lançamento do filme, é largamente discutida e já arregimentou fãs e defensores dispostos a “estudar” a fundo suas camadas, emulando, saudavelmente, o fenômeno “Matrix”.

Um desses fãs, de audição mais atenta, percebeu que o momento-chave da peça de Hans soa como uma versão em andamento lento da música “Non, je Regrette Rien”, cantada por Edith Piaf e que também integra a trilha sonora do filme.

Eis o vídeo postado por ele no YouTube, explicando didaticamente essa curiosidade:



“Como em um jogo, toda a música é composta por subdivisões e multiplicações dos elementos da canção de Edith Piaf”, admitiu o compositor em uma entrevista para o New York Times. “Eu já vi, e fiquei surpreso pelo tempo que levou para perceberem”, constata ele, sobre o vídeo.

Zimmer também disse que “Non, je Regrette Rien” estava indicada no script de “A Origem”. “Nolan (diretor do filme) sempre teve Edith Piaf em seu roteiro, aquele da-da, da-da”, explica o compositor. “Era como uma imensa buzina de nevoeiros sobre uma cidade, e mais tarde você talvez percebesse essa relação.”  

É óbvio a qualquer um que tenha entendido a proposta do filme, ou ainda, que seja familiarizado com o estilo do compositor, que o diálogo entre as peças está longe de ser um plágio simplório. Mais fácil ainda é constatar que Hans Zimmer conseguiu realizar em “A Origem” um trabalho profundo e genial, talvez, até aqui, o mais significativo de sua carreira.

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