domingo, 12 de setembro de 2010

O idioma dos olhos

"Eu sou o único espectador desta rua; se eu deixar de ver, ela morrerá."
( Luiz Borges )

Quantas leituras pode-se fazer sobre uma imagem? Quantos símbolos, clichês e mesmo ardis, obstáculos à percepção, tem-se que desvendar com os olhos, antes de extrair informações de um quadro, uma fotografia? Que linguagem é essa, às vezes tão clara, outras, totalmente dependentes da subjetividade do observador? Que poderes ela possui?

"Tudo o que é reto mente. Toda verdade é sinuosa. O próprio tempo é um círculo."
( Friedrich Nietzsche )

Em princípio, pode-se pensar na quantidade imensa de estímulos visuais a que somos expostos diariamente em relação ao tempo de que, realmente, dispomos para lidar com eles. Há uma tendência em se preferir a superexposição em detrimento da seleção criteriosa, em se pensar que quanto mais, melhor.

Um olhar educado reconhece e diferencia níveis qualitativos nas imagens e acaba descartando o que não serve, evitando, assim, um “congestionamento mental”.  Com esse “filtro” visual, esse esvaziamento interno do que é irrelevante, é possível admitir que, sim, há informações demais. Convivemos com imagens inúteis demais.    

O domínio na percepção das imagens pode levar ainda mais além. Em outro estágio, o foco não é mais a fadiga mental pelo excesso de informações, e sim, o terreno perigoso das intenções subjacentes. A publicidade e a indústria cultural se utilizam dos avanços da ciência e, mais especificamente, da psicologia, que é a ciência do comportamento humano, para dirigir vontades e opiniões. Todos os dias surgem dogmas e paradigmas que são veiculados através de imagens e seguidos, respeitosamente, por milhares de cegos funcionais. De todos os lados, vem apelos e ordens silenciosas, às quais tendemos a nos acostumar.

Tudo isso pode ser dito, também, sobre o som, e os prejuízos existentes em uma audição desatenta e sem critérios. Mas, esse é um fenômeno que merece um raciocínio próprio, por ser bem mais complexo e bem menos individual. Como disse uma vez o compositor Murray Schafer: “Nossos ouvidos não têm pálpebras”.

É preciso um esforço para escapar do lugar-comum da leitura de imagens. Aprender a descartar, reorganizar e criar formas mentalmente. Alinhar a lógica e o coração ao olhar. Refletir e buscar significados escondidos. E, até mesmo, poesia onde, em princípio, não há nada.  

 
 
"Para existir grandes poetas, devem existir grandes espectadores também."
( Walt Whitman )

Um comentário:

  1. Muito bom!
    Ter senso critico é fundamental..
    To vendo isso no meu curso de Sociologia, como a cultura, costumes, crenças, paradigmas e etc condicionam nosso entendimento das coisas...
    interessantíssimo!

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